quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Adeus, Estrela Solitária

O tempo é inexorável. Corrói a tudo e a todos. Leva consigo tudo o que é gigantesco e não respeita o mais indestrutível dos institutos. Às vezes leva sonhos, às vezes leva lágrimas, às vezes leva pessoas, quase nunca leva mitos. Mitos são inoxidáveis, são impassíveis e invergáveis. São mitos.

Morreu hoje uma parte do meu folclore. Oitenta e oito anos, o demônio do coroa poderá descansar, cansado e combalido. Adeus Nilton Santos, obrigado por tudo. Armando Nogueira certamente já lhe prepara a crônica de boas vindas.

Poucos clubes no Brasil são uma pessoa. O Flamengo se espelha no Zico, o Santos se fez em Pelé, o Botafogo era o Nilton Santos. Não à toa os três estão na lista da Fifa de maiores clubes do século XX.

Lágrimas jamais serão suficientes, textos jamais exaurirão suas mágicas, palavras jamais expressarão sua genialidade, a vida foi muito pequena para você. Saindo dela para definitivamente entrar pra história, se vai Nilton Santos, a Estrela Solitária e deixa aqui a imortalidade das paixões que despertou.

Personificação de uma multidão, este senhor de sorriso afável e comportamento bondoso deixa órfão hoje um sem número de seguidores, a grande minoria deles botafoguenses como eu.

Hoje o Brasil se torna menos campeão, menos folclórico, menos identificado e mais comum. Foi-se um homem de brios e princípios, um gentleman capaz de fazer apaixonar por um escudo até o mais romântico dos escritores. Um malandro inocente que fez do Brasil o que hoje ele é.

Pilar da principal paixão do brasileiro, perde hoje o Botafogo e o país, ganha a pelada celestial. Hoje tem festa lá em cima, tem jogada pelos dois flancos, tem Garrincha endiabrado e Nilton Santos recém chegado. Hoje os dois se abraçam, se embrenham pelas nuvens atrás de passarinho, jogam linha de passe até cansar e depois matam a saudade das conversas. Ah que inveja dos anjos!

E que tristeza! Hoje morreu o espírito do Botafogo. Hoje se torna menos alvinegra a camisa que meu peito enverga, os opostos se abraçam pra chorar sua perda e tudo que era preto e branco fica meio cinza.

Desbota também o amarelo ouro da seleção nacional, que desnorteado se mistura com o azul, o verde e o branco pra se tornar tão indefinido quanto o sentimento de perda que hoje assola o Brasil.

Obrigado por tudo, seu Nilton. A falta do seu sorriso nas manchetes antes das finais vai ser difícil de aceitar. O coração em forma de bola se despedaça, os gomos se rasgam e agora jaz no peito de cada botafoguense uma lápide em forma de escudo, sem a sua maior estrela, negra como o luto que invade.

Tal qual um livro que chega ao seu capítulo final, hoje se escreveu a última página da Enciclopédia do futebol e uma pesada capa nos esmaga a razão. Vá em paz, Estrela Solitária, você nos fez feliz!

E leve consigo aquela placa que por anos ornamentou a sua e tantas outras casas de botafoguenses pelo mundo. Prenda a na entrada do céu, deixe bem visível, faça-se entender: “Seja bem-vindo, mas não fale mal do meu Botafogo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário